A comunicação é o sistema circulatório de qualquer casamento, conferindo-lhe
vida.
Se duas pessoas não conversam com freqüência em profundidade suficiente,
jamais vivenciarão uma verdadeira unidade e unicidade de coração. Mas
estabelecer uma comunicação não é tarefa fácil. Homens e mulheres tendem aos
mal-entendidos. Interpretamos mal uns aos outros. Fazemos até mesmo um
julgamento errado uns dos outros. Se desejamos encarar a comunicação com
seriedade, devemos nos comprometer com o rompimento das barreiras da
incompreensão. Contudo, a tentação é deixar as coisas desandarem – parar de
negociar mediante a dialética do “ele disse, ela disse”.
Mas, na arena da comunicação, ceder ao comodismo seria uma violação do voto
conjugal. Se nos recusarmos a continuar dialogando de modo
aberto e profundo, estaremos nos rejeitando mutuamente como pessoas. É por isso
que a comunicação deve continuar sendo a prioridade número um do casamento. Fato
é que o compromisso de não se fechar emocionalmente e de manter a comunicação
mútua de coração aberto é ainda mais importante no casamento que a dimensão
física do sexo.
No casamento a comunicação é o ato do diálogo, da compreensão e do amor. É
uma capacidade que se aprende, não é inata. Requer habilidade para observar,
tomar nota e ir retificando as maneiras e estilos de entender-se mutuamente. Os
casais estáveis partilham sinais de identidade próprios, códigos privados,
olhares de cumplicidade, gestos pessoais… Tudo isso constitui uma forma positiva
e particular de contato. Em poucas palavras, uma forma de comunicação em que se
destacam três áreas particularmente importantes: verbal, não-verbal e sexual,
que formam um conjunto, graças ao qual duas pessoas se conectam, falam,
calam, ouvem-se, transmitem, expandem-se, contagiam, demonstram afinidade e
divergem; ou seja, exprimem com seus gestos aquilo que pensam e sentem.
Existem três elementos sem os quais o ato da comunicação com os outros não é
possível: emissor, mensagem e receptor. O emissor fala com a intenção de enviar
uma mensagem para um sujeito que funciona como receptor. Obter
um diálogo fluido entre ambos requer uma boa saúde mental, naturalidade e
vontade de retificar e aprender com a experiência para ir realizando o ajuste do
casal.
Há uma premissa sobre a qual é preciso fazer um breve comentário: a
sinceridade absoluta e total com o outro é uma utopia, é até mesmo negativa,
porque cada ser humano necessita ter sua parcela privada, íntima, uma espécie
de gaveta trancada com chave que nunca se abre. Por quê? Por várias razões. Por
um lado, os fatos familiares, pessoais e/ou profissionais cujo conhecimento não
acrescenta nada ao outro podem representar um duro golpe. Por outro lado,
deve-se proteger o outro de tudo o que for excessivamente ocasional e
passageiro. Quantas idéias, pensamentos, lembranças, opiniões e sentimentos
contraditórios passam pela nossa cabeça sem que precisemos expô-Ios de maneira
contundente! Não devemos esquecer, além do mais, que as pessoas instáveis, que
sofrem bruscas mudanças em seu estado de ânimo, podem chegar a registrar
distorções, que exageram os fatos de maneira negativa, ignorando os aspectos
positivos e transformando os aspectos neutros em negativos, ou deformações na
maneira de receber as mensagens, o que acaba por afetar sua percepção da
realidade.
É preciso acrescentar que, embora alguns pensem que a verdade do que há no
interior de cada um aparece nas brigas, tensões e discussões graves, isso está
errado, porque ocorre precisamente o contrário: em tais circunstâncias aflora o
mais elementar e primário de nós, uma mistura de paixão, pouca racionalidade e
meias verdades mal definidas. E mais, as expressões fortes, depreciativas, duras
e mal-intencionadas são mais desabafos que comunicação autêntica. Não procuram
um encontro e sim ganhar a partida, derrotar o outro após uma batalha campal na
qual cada frase funciona como arma de arremesso. Nesses casos ficar calado é um
grande acerto, controlando a linguagem não-verbal para não trair esse silêncio
maduro e sensato.
As pessoas com um problema sério de incontinência verbal consideram
uma necessidade, uma espécie de liberação, dizer impropérios ao outro e
vasculhar no seu passado o que possa magoar mais, causar a ferida mais sutil e
mordaz. Acontece que algumas delas não são esquecidas e com o passar do tempo
abrem uma fissura muito difícil de superar.
No relacionamento conjugal não se deve confundir sinceridade com ser
excessivamente direto, claro e contundente. Deve-se prestar atenção,
na vida conjugal, a como se dizem as coisas. É importante que se manifeste a
discrição: saber falar e silenciar, dizer e escamotear, passar a
mensagem correta com amor, com tato para não ferir o outro. Todo casamento
precisa de renúncia e investimento. Precisamos ser pródigos nos elogios e
comedidos nas críticas. Precisamos ser generosos nas palavras, bondosos nas
ações e puros nas intenções, se queremos fazer do casamento uma fonte de
alegria.
A melhor base para o diálogo é o entendimento nas grandes questões que regem
a vida em comum e, é claro, o esforço para melhorar e se adequar aos mecanismos
da convivência.
FONTE:
www.nossolegado.com.br
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