A Bíblia não declara explicitamente por
que Adão e Eva acabaram morrendo depois de certos anos de vida, enquanto
Satanás e os demais anjos maus continuam vivos até hoje. Existem,
porém, alguns conceitos bíblicos que nos ajudam a entender essa questão.
Devemos reconhecer, inicialmente, que Deus é “o único que possui
imortalidade” inerente em Si mesmo (I Tm 6:16), e que Ele concedeu
imortalidade condicional aos seres criados. Isso significa que os anjos,
bons ou maus, não são imortais por si mesmos.
A existência
pecaminosa de Satanás e os anjos maus, bem mais longa do que a de Adão e
Eva, deve-se basicamente ao fato de os seres angelicais terem sido
criados com atributos e habilidades superiores aos dos seres humanos
(ver Hb 2:7). Os anjos são seres espirituais (Hb 1:14) com grande poder
(Sl 103:20) e que se locomovem em alta velocidade (Ez 1:14; 10:20; Dn
9:21-23), sem serem detidos por barreiras físicas (At 12:1-11). Embora
Satanás e seus anjos sejam seres pecaminosos (Ap 12:7-10; I Jo 3:8),
eles ainda retêm grande parte do seu poder (Ef 6:12; I Pe 5:8). Satanás
pode se transformar até mesmo “em anjo de luz” (II Co 11:14). Mas os
seres humanos não foram criados com essas características.
Além disso, Lúcifer (o nome de Satanás
antes de se rebelar contra Deus) tornou-se o autor do pecado (Is
14:12-15; Ez 28:12-19), passando a acusar o próprio Deus de ser injusto
em Seu trato com as criaturas (ver Gn 3:1-5). A crise entre Deus e
Lúcifer intensificou-se a ponto de haver “peleja no Céu” entre Cristo e
os seus anjos, de um lado, e Lúcifer e os seus anjos, do outro (Ap
12:7-9). Deus poderia ter destruído imediatamente os anjos rebeldes,
mas, se o fizesse, as demais criaturas do Universo passariam a servi-Lo
por temor, sem compreenderem a verdadeira natureza do pecado que ainda
estava em sua fase embrionária. Deus preservou a existência de Satanás a
fim de tornar evidente, ao longo da história humana, a falsidade de
suas acusações (ver Ap 12).
No Jardim do Éden, Satanás, na forma de
uma serpente, disse a Eva que ela e Adão não morreriam (Gn 3:4; Ap
12:9). É evidente que essa declaração não passava de uma mentira e de
uma contradição direta da advertência divina contida nas palavras
“certamente morrerás” (Gn 2:17). Como Satanás e seus anjos haviam pecado
e continuavam vivos, ele pode ter imaginado que o mesmo ocorreria com
Adão e Eva. Afinal de contas, até então não se havia concretizado
plenamente o princípio de que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23),
pois a morte ainda não era conhecida. Ela se tornaria conhecida com a
morte do primeiro animal sacrificado (Gn 3:21) e do homicídio de Abel
(Gn 4:8).
O relato bíblico diz que Adão, apesar do
seu pecado, viveu 930 anos (Gn 5:5). Lúcifer, que também pecou, continua
existindo, mas seu fim já está predeterminado. Ele e seus anjos serão
lançados no “lago de fogo e enxofre” (Ap 20:10; ver Mt 25:41; Jd 6), que
os consumirá completamente, não deixando deles “nem raiz nem ramo” (Ml
4:1; Ap 20:9).
O período de existência dos seres humanos
pode variar significativamente, como mostram as genealogias bíblicas
(Gn 5:1-32; 11:10-32) e a experiência prática da vida. O fato de Deus
ter concedido uma existência bem mais longa a Satanás e seus anjos não
significa que eles sejam imortais em si mesmos e que nunca deixarão de
existir. Satanás, seus anjos e todos os ímpios serão completamente
destruídos quando o mundo voltar finalmente à sua perfeição
original (ver Ap 21:1-5).
Texto de autoria do Dr. Alberto Timm
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