Um dos elementos mais ausentes entre nós hoje é uma fé ativa, vital e
envolvente – uma fé que acredita exatamente no que Deus diz em sua
Palavra. O diabo não se importa muito com a frequência dos nossos tempos
de jejum e oração, nem com a intensidade das nossas orações, contanto
que nunca cheguemos a realmente crer que Deus fará o que estamos pedindo
que ele faça. Vivemos num dia em que fé vital e envolvente está em
decadência. Já dá para compreender melhor o que Jesus quis dizer quando
declarou: “Quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lc 18.8).
A fé nos eleva à esfera em que Deus vive e age. Hoje, dá a impressão
de que a maioria da nossa atividade religiosa não passa daquilo que
pessoas treinadas, estudadas e intelectualmente capacitadas conseguiriam
produzir. O elemento sobrenatural está faltando entre nós. As pessoas
não veem nada além daquilo que o próprio homem consegue trazer ou
realizar. Parece faltar-nos a fé que nos eleva à dimensão em que Deus
age. Planejamos, elaboramos estratégias, trabalhamos, criticamos e
conversamos com os outros sobre as dificuldades, ao invés de nos
dedicarmos à verdadeira tarefa de orar e confiar em Deus para resolver
as questões.
Neste tempo, em que a fé parece ter um papel tão insignificante na
vida do cristão comum, é animador voltar para Romanos 4 e ler a respeito
de um homem que não tinha outra saída, a não ser crer ativa e
vigorosamente em Deus:
… mas também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai
de todos nós, como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí),
perante aquele no qual creu, o Deus que vivifica os mortos e chama à
existência as coisas que não existem. Abraão, esperando contra a
esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora
dito: Assim será a tua descendência.
E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio
corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, não
duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se
fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele
era poderoso para cumprir o que prometera. (Rm 4.16-21)
Se Abraão pôde ter tamanha fé naquela época, que tipo de fé devemos ter hoje, neste tempo atual da ação do Espírito Santo?
Sem saída – só pela fé
Em primeiro lugar, temos a natureza de sua fé (vv. 17-18). Depois de
ter todas as portas naturais fechadas, Abraão ficou sem qualquer outra
saída. Seus esforços, tentativas e manipulações da carne já haviam
cessado. Seus olhos deixaram de focar causas, condições, consequências,
provisões. Do seio desse próprio desespero, nasceu uma esperança
sobre-humana por um filho sobrenatural.
A fé funciona melhor quando não há esperança natural. Enquanto se
pensa que consegue se virar, manipular, promover, “mexer seus pauzinhos”
ou convencer os outros, não haverá verdadeira fé. Enquanto se confia na
própria capacidade, conhecimento ou eloquência para conseguir
resultados, não haverá fé. Se houver uma mínima palha para prender a
atenção dos olhos, a fé terá dificuldade para entrar em ação.
O gigante da fé, George Müller disse: “Lembre que a hora própria para
a fé começar a funcionar é precisamente quando não tem mais capacidade
para enxergar. Quanto maior a dificuldade, mais fácil é para a fé agir.
Enquanto houver certa perspectiva natural, a fé não consegue agir tão
facilmente quanto nas situações em que as possibilidades naturais
deixarem de existir”.
Finalmente, quando atingiu a idade de 99 anos, com suas energias
vitais enfraquecidas e esmorecidas, quando Sara aparentemente estava
totalmente estéril, “sob circunstâncias totalmente impossíveis e
desesperadoras, Abraão ainda creu com coração esperançoso”. Por quê?
Porque ele cria num Deus que podia trazer vida da morte (um Deus de
ressurreição) e que podia declarar como existente aquilo que ainda não
tinha existência (um Deus de criação – Rm 4.17). Em outras palavras, seu
Deus era maior do que os seus problemas ou dificuldades. E daí, se ele
estava velho e Sara era estéril? Diante de um Deus como este, ele podia
crer mesmo quando não havia fundamento algum para razão ou esperança
natural.
E quanto ao nosso Deus hoje? Ele é maior do que nossos problemas, dificuldades, aflições e tristezas?
Fé baseada na Palavra de Deus
Em segundo lugar, ele tinha base firme para sua fé. Ele se
fundamentava na palavra de Deus, na promessa que citara claramente “tua
semente” ou descendência. Com fé inabalável, ele olhava para os fatos:
sua própria impotência (ele tinha quase 100 anos de idade, estava com um
pé na cova) e a aparente esterilidade de sua esposa Sara. Recusava-se a
permitir que qualquer desconfiança sobre aquilo que Deus lhe dissera
claramente o fizesse vacilar.
Ele tirou força dessa fé e, enquanto dava glória a Deus, permaneceu
absolutamente convicto de que Deus era capaz de realizar sua própria
promessa (Rm 4.19-21). Leia e releia essa passagem até que a verdade
nela se torne parte da própria urdidura e trama de sua alma. Ele
confiava na promessa de Deus que dizia explicitamente “tua
descendência”. Essa era a base de sua fé e esperança.
A fé, para ser real e dinâmica, precisa ter uma base objetiva, uma
garantia na qual possa operar. Não podemos crer simplesmente porque
queremos nos obrigar a acreditar em alguma coisa. Isso não seria fé,
seria credulidade ingênua. Seria uma questão de fazer de conta. É nesse
ponto que muitos perdem o rumo. Baseiam sua fé numa emoção ou visão, mas
não na palavra de Deus. A fé precisa ter um fundamento. Qual é o
fundamento de uma fé inteligente, verdadeira? A palavra de Deus.
“Portanto, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo”
(Rm 10.17). A fé que é edificada sobre a palavra de Deus é uma fé
inteligente, uma fé que receberá o que está pedindo. Para fazer uma
oração de fé, então, devemos estudar a Palavra de Deus, descobrir o que
ele prometeu, manter isso bem firme na nossa mente e aproximar-nos de
Deus para pedir aquilo que ele prometeu.
George Müller, o grande homem de oração e fé, pesquisava as
Escrituras durante vários dias até encontrar a promessa na Palavra que
se adequasse à necessidade do momento. Depois, ele se colocava de
joelhos com a Bíblia aberta, marcava com o dedo o texto que continha a
promessa e o levantava diante de Deus, enquanto suplicava: “Agora,
Senhor, cumpre o que prometeste”. Ele tinha um fundamento firme para
sustentar sua fé confiante.
Fé quando tudo parece contrário
Em terceiro lugar, vemos a atividade da fé de Abraão: “… esperando contra a esperança, creu”; ou, em outras palavras: “aquele que, diante de circunstâncias totalmente impossíveis, creu com expectativa”.
Ou seja, diante de todos os argumentos do bom senso, da razão, da
experiência, do sentimento, da opinião de outros, de todas as
possibilidades humanas, em oposição a todas as incitações ou persuasões,
ele creu com esperança. A verdadeira fé, por vezes, é contrária ao bom
senso, à razão e à experiência.
Se você duvida disso, estude a fé de Noé enquanto construía a Arca
(Hb 11.7); a fé de Josué quando ordenou que os sacerdotes entrassem no
rio Jordão que transbordava (Js 3.8) ou quando marcharam em volta dos
muros de Jericó ao invés de levar instrumentos de guerra (Js 6.3).
Nossa dificuldade, hoje, é que estamos tão cheios de bom senso, razão
e experiência, que não conseguimos nos arriscar e confiar em Deus para
realizar o que nossa limitada razão, inteligência e experiência não
conseguem aceitar. Assim, continuamos promovendo, manipulando, dando um
jeito, “mexendo nossos pauzinhos” ou tentando convencer, dependendo do
nosso treinamento, conhecimento, habilidade ou eloquência.
Essa admirável fé de Abraão, descrita em Romanos 4, foi baseada
naquilo que Deus havia dito (Gn 15.1-5). Foi por isso que ousou crer no
meio de total impossibilidade e desespero, acreditando naquilo que foi
prometido para despertar sua esperança. Sua fé tinha o fundamento da
Palavra de Deus. Ele confiava numa Pessoa. Não era fé humana, confiança
em alguma ideia ou estratégia. Sua fé estava firmada em Deus, aquele que
o levara para fora da tenda, debaixo das estrelas, para dizer-lhe que
sua descendência seria como as estrelas do céu. Deus falava disso como
se já tivesse acontecido, pois não havia dúvida de que realmente
aconteceria.
As coisas que Deus promete serão cumpridas tão certamente que ele se
refere a elas como se já existissem! Por isso, Abraão podia ter
confiança total em sua causa e no curso de sua vida. Poderia levar anos
para se tornar realidade, porém a fé considera as coisas como se já
tivessem se realizado. Na verdade, levou 26 anos para acontecerem.
“E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta…”. Sua fé
nunca vacilou. Sua fé considerava os fatos, pois a fé não fecha os
olhos para a realidade, não procura evaporar as dificuldades por
piamente ignorá-las, não minimiza as dificuldades. O que ela faz é
engrandecer, maximizar o poder de Deus.
Ele olhou para si mesmo e para Sara e viu a impossibilidade em ambos.
Ao mesmo tempo, olhava na outra direção, para o Deus da criação e da
ressurreição que havia prometido a criança. Bom senso, razão natural e
experiência diziam: “É impossível, não pode acontecer”. A fé,
entretanto, dizia: “Tanto pode, como vai acontecer!”
Portanto, Abraão “não duvidou [não vacilou, não desabou] por incredulidade… mas, pela fé, se fortaleceu”.
A palavra traduzida “duvidar” significa “discriminar, aprender ou
decidir por discriminação, disputar ou contender interiormente, estar em
conflito consigo mesmo, hesitar, duvidar”. Porém, Abraão não hesitou
nem contendeu interiormente, por falta de fé. Não houve incertezas,
tentativas de achar o equilíbrio interior, lutas por incredulidade.
Tendo já se comprometido com a promessa de Deus que era totalmente
além de qualquer possibilidade humana, ele continuou firme, sem
cambalear, fraquejar, vacilar ou hesitar. Abraão não entrou em disputa
consigo mesmo, não parou para debater interiormente, não hesitou nem
tropeçou na promessa; pelo contrário, por um ato resoluto e definitivo
de sua vontade, com ousadia santa, ele aventurou tudo o que tinha para
crer na promessa.
Isso produziu o resultado duplo de trazer glória a Deus, em quem
depositara sua confiança, e de torná-lo cada vez mais forte na fé. Ou
seja, a fé lhe deu resistência e fibra espiritual. Quanto mais tempo ele
esperava, mais forte sua fé se tornava. Geralmente, as circunstâncias,
dificuldades e racionalizações tendem a nos enfraquecer. Pedro vacilou e
afundou-se na água. Mas Jesus lhe disse: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?” (Mt 14.31).
A fé de Abraão injetou vigor no seu entendimento, no seu
discernimento, no seu afeto e na sua vontade. A fé cresce por meio de
experiência e prática.
Os dois irmãos, John e Charles Wesley, estavam conversando, certa
ocasião, sobre um importante projeto que ambos desejavam realizar, mas
que Charles achava inatingível. John discordava, achando que era
possível realizar e que deveriam tentar. No fim, Charles disse: “Quando
Deus me der asas, voarei”. John respondeu: “Quando Deus me mandar voar,
confiarei nele para me dar asas!”
“Estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera”,
ou seja, estando inteira e totalmente persuadido, ele aventurou tudo na
palavra de Deus. É uma segurança plena de que Deus fará o que prometeu.
Não depende de sentimentos, de alguma emoção, êxtase ou visão, mas de
confiança naquilo que Deus prometeu. É crer sem hesitação ou reserva.
Nossas dúvidas surgem principalmente da nossa desconfiança do poder
divino, de não levar Deus a sério em tudo o que ele promete. Devemos
abrir nosso coração diante de Deus, trazer à luz a incredulidade que nos
rouba as coisas que Deus quer que obtenhamos. A fé transcende
limitações humanas e nos conecta intimamente com Deus.
Por: H. C. Van Wormer
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